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 A Última Dança na Arena

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A Última Dança na Arena Empty
MensagemAssunto: A Última Dança na Arena   A Última Dança na Arena EmptyQui Dez 24, 2020 7:51 pm

O fedor enervante de fuligem, mofo e excrementos invadia sua narina, os ossos doíam pela agressão constante da umidade e do frio, os músculos duros pela falta de movimentação. Algemas o prendiam na parede de tijolos, apertavam pouco para não ocasionarem em uma amputação por gangrena. Seus olhos já haviam se acostumado com a escuridão e conseguiam distinguir as barras de ferro, os ratos dormindo no canto do cômodo e a cumbuca redonda onde seus poucos alimentos eram servidos. Ele queria não comer, mas seu corpo respondia sozinho a necessidade de sobreviver.

Sempre foi assim, desde suas mais tênues memórias de sua criação em Yunkai. Não sabia de quem ele era filho ou qual era seu nome, mas se lembrava de estar de pé, faminto e apenas meio desperto, entre um número incontável de escravos enfileirados. Não conseguia lembrar o que passava em sua cabeça na época, ou se pensava, só sabia a sensação do porrete de madeira em sua mão, a sobrevivência e o sangue derramando escorrendo pelos tijolos amarelos. Sangue e tijolos haviam construído sua vida.

Seu mestre o comprou depois de uma grande briga. As pirâmides de Meereen, com suas centenas de cores e degraus, eram tão grandiosas e belas a sua visão infantil que ele acreditou que ali poderia ser livre, tamanho o espaço pelo qual se aventurar e a beleza. A doce mentira foi destruída no interior de uma grande pirâmide de tijolos rosas e brancos e ele mais uma vez percebeu que apenas a espada compraria sua liberdade. A arena de Daznak aceitava apenas os melhores ou os com o patrocínio mais elevado, no começo ele não era nada mais que um sacrifício aliciado para servir como uma apresentação de comédia aos homens e mulheres livres de Meereen, só que ele sobreviveu e lutou e matou homens e mulheres de todo o mundo e sua fama e glórias lhe renderam o respeito da cidade.

Ele se considerava um sortudo, via garotos sendo levado aos bordeis ou salões de música onde perderiam para sempre parte de sua inocência e masculinidade, homens carregando liteiras nos ombros com menos honra que um animal de carga; até alguns homens livres, serviçais e acompanhantes, plantadores e guardas, eram menos livres que ele; ou assim ele pensou um dia. Os grandes lutadores da arena recebiam o melhor que seus mestres tinham para oferecer e os nobres da casa de Pahl, em sua pirâmide rosada, podiam oferecer qualquer coisa a aqueles em suas graças.

Ruídos graves e metálicos, a porta do calabouço abriu e despertou o prisioneiro. Soldados carregando longas tochas foram os primeiros a entrar, ele fechou os olhos incomodados com a luz. Um impacto forte nas grades por uma lâmina, ele abriu os olhos. Parado a sua frente, enrolado em um tokar rosa e branco com alfinetes de ouro e prata nas curvas arredondadas da cintura e do ombro, uma longa espada de ferro em mãos refletindo as chamas dos archotes e cobrindo em sombras o rosto gordo do nobre. Os soldados prenderam os archotes nas paredes e recuaram para fora do calabouço.

— Eu deveria ter simplesmente te matado e dado uma lição clara a aqueles de sua estirpe, mas isso levantaria perguntas demais do resto da cidade e eu não vou desperdiçar as trezentas moedas que você vale... Não, se for para te ver morto, será em uma arena onde tu me compensarás pelo prejuízo. Que os deuses te julguem por tua ousadia.

Ele apenas ouvia de cabeça baixa o grito preso raspado e profundo que era a voz de seu mestre, seu ódio não diminuído em nada desde o dia de sua ruína. Não ousou levantar o rosto ou desvia-lo e atrair a inconsequente explosão que está ousadia acarretaria, Skazas Zo Pahl queria acima de tudo lembra-lo a quem ele pertencia como ele havia esquecido em meio aos aplausos e as batalhas.

Havia sido após um combate direto com uma Dothraki capturada depois de um ataque mal sucedido. Muitos temiam o embate, ele não, uma selvagem impaciente e agressiva não era nada diferente de todos os outros lutadores que tinha enfrentado, as hordes Dothraki esboçavam terror por sua velocidade e caos inerente, mas um dothraki sozinho e desmontado não era nada mais que uma besta feroz aleijada. Vencera, não sem custo, mas vencera e se recuperaria.

Naquela noite, em seus aposentos no meio da grande pirâmide os outros lutadores o felicitaram e quando a lua já estava alta e a muito a maioria adormecido, Qezza o visitou, já bêbada e com grandes intenções em mente. Naquele dia, tamanha era sua glória que acreditou de verdade que seus grilhões não existiam e tomou para si um papel que nunca o teriam permitido. Noites eram curtas e vozes corriam dentro da pirâmide, nada fugia dos olhos de Skazas e ele estava atento. No dia seguinte foi levado as presas até o topo da pirâmide, sozinho e sem poder se levantar sem que os guardas o batessem até mais uma vez ajoelhar.  Foi levado aos calabouços da pirâmide e, em sua cela, mantido preso e sem visitas por semanas ou meses, não sabia como contar.

— Você não mais a verá, isso eu garanto. Não vai manchar mais com suas mãos o nome de nossa casa, nem ela cometera mais um erro tão grosseiro. Mandei-a para Yunkai como um sinal de amizade com um antigo aliado. Pois se prepara, sua última luta está chegando.

E ele ficou e esperou, não queria lutar, não queria ajoelhar-se e obedecer Skazas, mas a vida ainda queimava em seu interior. Era isso que fazia os melhores gladiadores, não sua habilidade, seu equipamento ou sequer suas vitórias, era a vida em seus interiores que os forçava a continuar mesmo quando todos sabiam que o melhor era deixar que seu tormento acabasse pelo beijo do ferro. Quando servos lhe trouxeram uma bacia de gafanhotos acompanhados por pastas de ervas e cereais e cubos de carne picada ele os devorou sem resguardos, nos dias seguintes eles o soltaram das argolas na parede definitivamente e ele pode voltar a se exercitar, os músculos ainda estavam lá e apesar de doerem a cada esforço ele continuava detentor de sua força. Foram-se mais algumas semanas até que o dia finalmente chegasse.

O puxaram direto de sua cela para dentro de uma liteira longa, mas simples, guardando cada porta grandes homens com armadura completa de bronze, facas de ferro, lanças curtas nas costas e fundas nos cintos. A liteira começou a mover-se, primeiro devagar enquanto passava por dentro da pirâmide e descia seus degraus, depois mais rápido uma vez que alcançaram as ruas, grandes cortinas de pano rosa escuro tapavam as janelas da liteira e impediam qualquer forma além de silhuetas simples do cenário fossem distinguidas, ele não entendia o porquê disso, talvez fosse para escondê-lo e camuflar a vergonha da Skazas, talvez para retirar-lhe qualquer chance de tirar proveito do momento e buscar uma fuga. Se fosse o segundo caso era uma medida desnecessária, ele sabia que fugas eram inúteis e seu caminho era claro, ele lutaria e caso morresse estaria livre, caso vencesse lutaria de novo e de novo até finalmente sua vez chegar.

Ainda assim ele percebeu que algo estava estranho. Seus guardas estavam tensos demais para que apenas ele, desarmado e desprotegido, fosse à justificativa, e as ruas vazias demais. A demora para a luta também ficou subitamente mais esquisita, se era apenas para mata-lo Skazas poderia tê-lo posto no dia seguinte para lutar, um bom guerreiro em posição vantajosa já teria garantido sua derrota nas condições em que estava, em vez disso ele esperou que arranjou que se recuperasse. Seu pressentimento dizia que havia mais em jogo do que apenas sua vida.

Alcançaram a arena de Daznak sem nenhum incidente pelo caminho. Dirigiram-se até os salões no subsolo da arena onde os lutadores aguardavam sua vez de entrar, um espaço amplo feito de várias pequenas grades que impediam de gladiadores inimigos brigarem fora da arena e dava segurança para os guardas cruzarem livremente por entre os lutadores. Cada uma dessas grades era propriedade de uma das famílias escravistas e tinha suas cores. Nas pontas norte e sul da arena, chegando através do corredor no centro do salão, que só era acessível uma vez que as grades fossem abertas, haviam dois grandes arcos decorados com a harpia em posição de ataque e, através desses arcos, alcançava-se as entradas para as arenas. Chamavam-nos de portões do destino.

Em sua nova cela ele não teve escolha a não ser sentar e observar, estava sozinho e nas outras celas a maioria dos lutadores também, com exceção da grande cela na área sul que pertencia a própria arena e abarcava todos os condenados e desafiantes sem patrocínios, lá treze esperavam juntos. Na cela dos Loraq ele viu um homem grande de pele negra, tatuado com marcas vermelhas por todo o rosto e coberto apenas do torso para baixo com os panos de um tokar rasgado, na dos Quazzar uma mulher alta de pele âmbar, a face quase esmagada e roupas de couro coladas. Os Hazkar, Naqqan e Kandaq enviaram meereeneses honorários vestindo armaduras de placas de bronze elegantes. A cela dos Merreq estava coberto por tiras de couro trançadas que isolavam seu lutador e guardam com armadura pesada e lanças longas e mantinham em vigilância. “Provavelmente um animal, um leão ou um crocodilo”, pensou, era esperado que os Merreq, como a atual família governante em Meereen e encabeçando os Grandes Mestres cedessem bom material para o espetáculo.

Os primeiros a serem levados para a arena foram os menos valiosos, da cela da própria arena. Foram levados a maioria em grupos e seus combates acabavam rápido, apenas um dos desafiante foi trazido de volta para sua cela, os outros estavam ou mortos ou necessitando de atendimento urgente. O guerreiro dos Naqqan foi vergonhosamente derrotado por um imaculado sem o braço da lança, ele conseguiu ouvir os gritos de revolta da plateia perante o resultado imprevisto. Depois levaram o negro e a mulher vestida em couro. Antes que voltassem os guardas estavam batendo em sua cela, ele seria o próximo.

Sem hesitar se prostrou de pé e andou, as grades abertas e os guardas lhe dirigiram para o portão norte. Atrás de si, um contingente se unia em volta da cela dos Merreq. Sem medo foi caminhando pelos corredores, nenhuma armadura estava disponível, teria de lutar desprotegido, chegou à antecâmara logo antes da arena, uma estrutura redonda cheia de armas para o gladiador escolher. O negro ainda estava lá, com apenas alguns poucos cortes no corpo e limpando o sangue de um machado de uma mão.

— Em sei quem você é, Cauto. Não é saudável apaixonar-se por seus mestres, eles não te trazem nada de bom. — A voz dele era calma e o sotaque quase inexistente. Olhou melhor as marcas no rosto dele, elas escondiam antigas cicatrizes e também eram vista nas costas dos antebraços fazendo o desenho lâminas e flechas. — Você tem um desafio complicado pela frente. Eu escolheria a espada mais longa que tiver disponível se fosse você.

Comentou e largou o machado, já limpo, no chão. O negro parou ao seu lado e apontou a espada a que se referia e ficou feliz quando o companheiro de arena a pegou e testou seus golpes com ela.

— Sobreviva hoje e terá sua liberdade. De a eles sua última dança na arena. — O negro disse e deixou a antecâmara.

Ele olhou a espada em suas mãos, quase tão alta quanto ele, impossível de se usar com uma única mão. O punho era de madeira rosqueada e a guarda recuava para trás fazendo uma proteção para as mãos. Ele só teve de esperar mais alguns segundos até a última porta entre ele a arena se abrirem, a luz do sol brilhando forte através dela, atravessou a luz e então pisou nas areias quentes de Daznak. Ao seu redor a arquibancada circular, cada lance com uma cor própria, estava cheia desde os distantes lances pretos e roxos no alto da Arena, usado por outros escravos e os mais pobres e excluídos, até o lance vermelho na linha da arena onde os Grandes Mestres mantinham seus camarotes. Atrás dele a gigante estátua de dois gladiadores lutando.

“Nenhum de vocês é livre, ninguém em Meereen o é. Escravos nos degraus escuros e altos, ou nobres pomposos com suas tigelas de gafanhotos, todos com seus grilhões, quer eles vejam, quer não.”, pensou e olhou para frente, seu adversário ainda não estava na arena.

— E contra o Cauto, um guerreiro temido e blasfemo. O pior entre os piores da pirâmide verde. Kraznar, o Cinzento. — Um homem anunciava do camarote dos Merreq, ele o reconheceu como Hizdahr Merreq, um dos mais ricos e poderosos da cidade.

E então seu oponente apareceu. Ele apertou os olhos e circulou pela arena até ter o sol em suas costas, levantou a espada longa com as duas mãos e as deixou em frente ao corpo, na diagonal, esperava que uma besta, o que encontrou foi muito pior: um homem, também sem armadura e carregando um arakh grande de ferro comum na mão esquerda, a pele ressecada e acinzentada, similar a uma pedra, os olhos escondidos atrás de inchaços nas pálpebras. Escamagris

Kraznar, o Cinzento, mostrava os dentes ferozmente, balançava o arakh em suas mãos e a plateia xingava-o e exaltava-o em igual medida e pelos mesmos motivos. O Cinzento se aproximava enquanto ele esperava, entendendo o porquê de uma espada longa. A esticou reta em frente ao corpo, medindo a distância. Quando o Cinzento chegou ao alcance da lâmina ele estocou e recuou depois do infectado ser afastado pelo golpe. Mais uma tentativa e ele golpeou mais aberto, batendo sua lâmina no Arakh, e recuou, corte e recuo, estocada e recuo, todos os ataques mirando a arma do inimigo.

O cinzento avançava e ele o afastava e recuava, acuado, torcendo para que o acaso lhe sorrisse e o arakh quebrasse com o impacto dos golpes trocados. Batia forte, mais forte do que supunha que seu adversário era capaz de acompanhar com sua lâmina curva gasta, contudo a praga cinzenta que morava naquela pele e entranhas afugentaria até mesmo o mais valente dos cavaleiros com a mais custosa das armaduras, pois oferecia um risco que transpunha a derrota. Um toque e se reduziria a uma criatura como o homem à sua frente e sua vitória não teria valor nenhum, a morte teria sido um destino mais agradável.  

O cinzento então pulou e avançou e ele estocou mais uma vez, só que mirando o coração, e conseguiu rasgar-lhe a lateral do peito, mas cometerá um erro e Kraznar pousou ao seu lado. Ele se assustou e jogou a lâmina o mais rápido que pode contra o corpo de Kraznar, buscando afasta-lo, o acinzentado apenas dançou por debaixo da lâmina e ele sentiu uma queimação no torso onde o arakh o perfurou e rasgou. Ele cambaleou e voltou a postura normal, trocando golpes com o cinzento, mas a dor o tornou mais lento e ele não conseguia retomar uma posição favorável, defendia e defendia e defendia, mas a cada momento a lâmina de Kraznar cruzava mais perto de sua pele.
Ele então levantou sua lâmina alto, as duas mãos apertando com força e esticou-se preparando uma descida poderosa, mas seu oponente estava próximo demais e o ataque não seria rápido o bastante, antes da espada longa descer já teria tomado um golpe livre e estaria morto. Kraznar chegou, furioso e afobado, o arakh mirando seu peito com um golpe lateral.

E então o punho da espada desceu, e não sua lâmina, e bateu direto no braço de Kraznar desviando o ataque que apenas lacerou a pele do guerreiro. Ele então se jogou para cima do cinzento e bateu de novo com o punho da lâmina, dessa vez no ombro do oponente que deslocou. O cinzento girou e enfiou um soco em seu rosto, ele cambaleou e Kraznar estava sobre ele no instante seguinte, ele brandiu a lâmina em um golpe em meia lua que penetrou até a metade do torso do cinzento, o sangue e o corpo do infectado caíram sobre ele.

Lançou o corpo para o lado e largou a lâmina, a plateia rugia, fora um grande espetáculo. Sua visão anuviava e ele já não sentia a mão esquerda e nem o calor na barriga, em seu lugar um frio calmante. Ajoelhou, sem energia, e foi a última coisa que fez antes de seu corpo desmoronar na areia.
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