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 O Sábio de Asshai

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MensagemAssunto: O Sábio de Asshai   O Sábio de Asshai EmptyQui Dez 31, 2020 11:16 pm

Parte I

Qelarys mergulhou a cabeça na água fresca da bacia, o calor de Qarth era das poucas coisas que não havia se acostumado nos anos em que viva na cidade. Puxou o rosto de dentro da água após alguns segundos e deu um longo suspiro, olhando-se no reflexo do líquido contido na bacia de argila pintada, o cabelo platinado continuava ondulando mesmo molhado e crescia rebelde, o rosto ovular limpo e sem barba, nariz baixo e fino, os olhos de um lilás pálido. Ele juntou as mãos em concha e a encheu de água levando-a ao rosto mais uma vez, a água fresca escorreu por seu pescoço e verteu-se em sua roupa, Qelarys puxou a camisa de linho azul e a retirou, enrolando-a no braço.
Pelo quarto ele caminhou, um cômodo oval e alto de paredes alaranjadas com uma porta em arco; modesto e espaçoso dispunha de poucas posses: Uma cama encostada na parede, a bacia de argila, alta e no formato de um cilindro com o topo aberto como um prato, decorada com pinturas amarelas e vermelhas de dragões no topo e guerreiros embaixo, um baú e uma mesa em semicírculo com pedaços de carvão, potes e um triturador de um lado e uma pequena pilha de livros do outro. O único luxo destinado especificamente aquele quarto era uma varanda ampla, o motivo de Qelarys tê-lo pedido a seu mestre anos antes.

Ele parou na varanda apoiado na grade de madeira com decorações de bronze e observou a movimentação rotineira de Qarth. O sol queimava sua pele alva, nuvens de areia e pó levantadas das ruas chegavam até ele, um problema vindo da baixa altura da varanda que se localizava no segundo andar da mansão, e irritavam seus olhos e garganta, e em tempos mais agitados tornava-se comum que o barulho da rua e a proeminente mistura de idiomas fizessem uma cacofonia dissonante; e mesmo assim Qelarys amava a grandiosidade de Qarth e da visão que da varanda tinha, pela rua ele via elefantes e camelos carreando homens vestidos de peles listradas e mulheres com mantos de linho e samito e um dos seios a mostra; comerciantes cruzando com carroças de bois ou armando barracas de tiras de madeira e capim; via pessoas de todo o mundo conhecido passando com suas comitivas em direção aos salões dos sanguepuro em busca de uma audiência; à distância cresciam imponentes as muralhas triplas que cercavam a cidade a mais tempo do que a existência de outros reinos, em sua beleza reconhecida até por Lomas Longstrider como uma das nove maravilhas feitas pelo homem.

Qarth, a rainha das cidades, a mãe das civilizações, que havia visto a glória e a queda de tantos impérios: Os Valirianos, os Ghiscari, os Roinares, mais novos que a velha cidade e ainda assim destruídos antes dela... Qelarys havia chegado à cidade há cinco anos, trazido de Myr por um navegador. Ele ainda lembrava-se de Myr com carinho, principalmente das enormes bibliotecas de Mihirro, seu primeiro mestre que o treinara na sabedoria das penas, das tintas e das letras e despertara em seu âmago a vontade de dominar as palavras e as culturas intrínsecas a elas. Ainda lembrava-se da tristeza de deixar a cidade quando o navegador o comprou como um produto especulativo e o levara para a rainha das cidades onde Xoan Xharo se tornou seu novo mestre. Myr tinha sido seu lar desde a tenra infância ele às vezes sentia saudade da cidade livre, mas existia algo em Qarth que o conquistara com o tempo, talvez fosse a grandiosidade, talvez a estranha modéstia que a acompanhava, talvez o quão naquela cosmopolita ela era com textos e viajantes de cada canto do mundo conhecido.

Ouviu batidas na porta e despertou de seus pensamentos. Deixou a varanda e ia abrir a porta, antes que pudesse uma mulher entrou no quarto sem se importar, era baixinha e muito magra e tinha os braços coberto por fuligem escura. Sheika Xarrad era uma jovem animada e cheia de requintes, um ano mais nova que o jovem Qelarys, com a pele oliva e longos cabelos de um ruivo cobre presos em uma trança circular sobre a cabeça, olhos bastante verdes e chamativos. Vestia-se com roupas simples que escondiam suas curvas, um gibão de couro com um alfinete na forma de uma serpente enrolada, calça de linho com proteções de couro nos joelhos e botas altas. Filha de um Qarteno com uma roinar, ela puxara a compleição da mãe e os talentos do pai com os animais, ajudava nos estábulos da mansão de Xoan e na limpeza de locais mais difíceis de alcançar.

— Mestre Xoan pediu que você se apresentasse nos jardins altos essa noite, logo após o jantar. — Ela disse com um sotaque meio sibilado e raspado, Qelarys sentou na cama— Chegou um visitante de honra hoje, homem estranho, vindo de Asshai.

— A cidade das sombras? — Qelarys perguntou. — Já faz alguns anos desde que vimos o último que veio de lá.

— Esse é diferente de Benno. — Ela respondeu animada. — Benno era só um viajante irresponsável, não passou nem um dia na cidade das sombras e desde então está meio maluco, pelo que ouvi dizer. — Qelarys não duvidava disso. — Não, dessa vez é um legitimo habitante de Asshai.

Qelarys estava receoso com a notícia, tinha quase certeza que sua convocação tinha alguma relação direta com o homem misterioso e ficava dividido quanto a isso. Gostava de ouvir histórias, era esse o grande motivo de adorar sua função de escriba e tradutor e o que o aproximou de Sheika que era ávida por espalhar os boatos e as conversas entre ouvidos dos estábulos, por outro lado não gostava ele mesmo de ser percebido e temia os homens das sombras e os segredos que escondiam. Aceitou que não tinha muita escolha na situação e suspirou, resoluto.

— Só me conte tudo depois, tudo bem? — Sheika perguntou e foi até a porta, parecia preocupada para voltar a suas funções. — Ah, quase esqueço, ele também te pediu para encontrar alguns textos na biblioteca da mansão. — Ela puxou um pequeno rolo de dentro de sua roupa, deixando pequenas manchas no papel enquanto o segurava. Qelarys tomou o rolo de sua mão e fez um aceno enquanto Sheika disparava para fora do quarto.

O pergaminho era de papiro e não papel e era bastante recente, provavelmente feito há poucos meses, quando o abriu deparou-se com uma letra estranha e puxada e percebeu que não fora seu mestre que a escreve e na verdade o homem misterioso, o papiro continha uma lista de documentos sobre a genealogia da família Xharo e de outras famílias importantes de Qarth e de antigas cidades do império Qarteno de antes do século de sangue.
Qelarys vestiu de volta a camisa azul e saiu de seu quarto em direção à biblioteca. A mansão de Xoan tinha quatro andares ao todo e tinha a forma de um grande quadrado com o centro aberto, onde um jardim e os estábulos se localizavam. Pelos corredores alaranjados e decorados por traços minimalistas ele via servas correndo com baldes de água cheios e subindo as escadas e deduziu que o visitante havia solicitado um banho. Ele sabia que um visitante com tamanha importância ficaria hospedado no último andar. Ele também subiu as escadas feita de grandes degraus que ziguezagueavam, mas parou no terceiro andar e dirigiu-se até uma porta de ferro pesada e a abriu com algum esforço.

— Bom dia Qelarys. — Uma mulher com a voz doce o perguntou. Tinha a pele clara como leite e cabelos castanhos curtos e olhos castanhos escuros A biblioteca era um cômodo grande e fechado cheio de estantes e baús e mesas circulares entre eles, na frente da porta uma mesa um pouco maior onde a mulher que o recebera esperava sentada. Ela tinha em mãos um livro muito grosso aberto.

— Bom dia Qhaide. — Ele respondeu. — Poderia me ajudar a encontrar alguns livros e documentos? — E entregou o pergaminho para ela.

Qhaide era a responsável por cuidar da biblioteca. Antes uma cantora de uma trupe famosa, sua voz a abandonara cedo demais e ela se viu afastada dos palcos e cuidando da parte logística do grupo. Foi apenas uma questão de tempo para ela abandonar esse ramo e trocar por outra atividade.

— Você fez bem em vir cedo. Não vai ser fácil conseguir tudo que foi pedido, alguns estão fáceis de encontrar, mas outros estão nos arquivos mortos ou não tem fonte direta. — Ela disse, olhando para a lista que Qelarys trouxe e para o livro em suas mãos.

Pelas próximas horas ele ficou enfurnado na biblioteca a procura dos documentos pedidos. Enquanto a maioria não demoraram mais do que alguns minutos para serem encontrados, os últimos tiveram de ser procurados em pergaminhos antigos e em diversas línguas, algumas em dialetos já esquecidos dos quais o escriba teve que deduzir os possíveis significados por proximidade. Quando acabou ele sabia que já deveria estar muito próximo ao horário em que se deveria atender a convocação, agradeceu Qhaide e, com uma pilha de livros e papeis transcritos, ele deixou a biblioteca.

Os corredores estavam vazios e as lamparinas queimavam e ele ouvia a confusão das cozinhas ao longe, correu até sue quarto onde deixou os livros e papeis e depois correu pelos corredores, descendo para o primeiro andar, até o grande salão da mansão. O salão tomava quase metade da ala norte do primeiro andar de tão longo e era dividido em duas secções, uma um pouco mais alta e com mesas menores, mas muito mais bonitas e elegantes, que era usado diretamente pela família Xharo e seus convidados mais ilustres e outra mais baixo que tinha várias mesas retas e grandes onde os servos e membros menores de comitivas comiam. Quando entrou ele notou que o lugar já estava quase vazio e que nem Xoan nem o convidado estavam no salão, foi primeiro até as cozinhas, acessíveis por uma porta no fim do cômodo, e trouxe de lá um pedaço de carne assada que podia devorar rápido, sentou-se em um banco qualquer e comeu preocupado em não se atrasar. Quando acabou ele correu até seu quarto, pegou o material pedido por seu mestre e subiu até o quarto andar.

Lá ele andou até um cômodo no extremo leste da mansão, os jardins altos: Um pequeno jardim de espécies raras usado para reuniões privadas. Encontrou a porta do lugar aberta, entrou e a fechou com os pés, os jardins altos eram formados por vários amurados cheios de terra que formavam corredores e onde as plantas eram colocadas, não possuía teto e era iluminado por pequenas velas no chão. Qelarys caminhou com cuidado pelas vias escuras até chegar no centro do cômodo, uma espécie de praça iluminada por um candelabro em que existia uma grande mesa com um tabuleiro de Cyvasse, lá ele viu seu mestre, meio escondido pelas sombras e o misterioso homem de Asshai.

Ele teve de parar por um momento, ciente que ambos já o haviam percebido, mas ainda assim contido pelo enorme contraste entre os dois. Seu mestre era um homem pálido e baixo, careca e com olhos pequenos e azuis, vestido nas melhores peles que Qarth podia oferecer, as sombras subiam por sua face e a faziam lembrar um bicho irritadiço esperando para abater sua presa; do outro lado o homem de Asshai estava logo atrás das chamas e o brilho vermelho pintava todo seu corpo, vestia um manto preto longo que deixava os braços, cheios de agulhas de ferro enfiadas e tatuagens circulares, o rosto coberto por um mascara vermelha ressaltada pelo fogo e cabelos bronze e curtos. O homem misterioso exalava muito mais elegância e periculosidade que seu mestre. Os dois, que já deveriam estar esperando a reação, não estranharam e nem hesitaram em sua conversa.

— Westeros até poderia ser uma boa viagem após essa, o rei deles parece estar fazendo um bom trabalho de manter o continente estável. — Xoan disse em Alto Valiriano e então se virou para o escriba. — Aproxime-se Qelarys, não tem porque temer meu amigo de longa data.

Qelarys chegou perto, ainda receoso, e deixou os papeis e os livros sobre a mesa. Tentava não manter contato visual com o homem misterioso e ainda assim sentia o peso de seu olhar.

— Muito bom. Então, seja apresentado a Esuru, um historiador de Asshai que há tempos, desde antes de eu nascer, se relaciona com minha família. — Seu mestre disse ainda em Alto Valiriano, sem muito entusiasmo, apontando para o homem.

— É um prazer, jovem escriba. — Esuru disse em tom baixo, mas amigável. — Queira me desculpar, mas eu não domino nenhuma língua além do alto valiriano e da língua de meu próprio povo.

—Muito bom citar isso, Esuru. Esse é o motivo de você estar aqui. — Xoan disse, cortando-os. — O Esuru precisa de um tradutor e escriba para uma viagem de pesquisa, você vai com ele.

Qelarys sofreu um baque sem entender. Sua confusão ficou evidente em seu rosto. Ele quase tremia de frio mesmo estando ao lado do fogo do candelabro. Esuru virou-se para ele e pelos pequenos buracos obscuros de sua mascara ele percebeu o fagulhar de seus olhos.

— Não seja tão direto com ele, Xoan. — Esuru disse como um pai dando uma bronca em sua criança. — Estou indo para o Mar Dothraki atrás das ruínas de Sarnor para ver se encontro informações da época que os Qaathi ainda não haviam sido expulsos da região. Seu mestre está me ajudando em troca de que eu compartilhe meus resultados com ele, um investimento por prestigio se quiser ver assim. Como eu não domino a língua dos senhores de cavalos vou precisar de um tradutor que tanto a domine quanto domine o Alto Valiriano, seu mestre te indiciou já que domina a ambas e ainda tem o talentos das penas que pode vir a ser útil uma vez que cheguemos a nosso destino. Não mentirei dizendo que é uma viagem rápida ou sem riscos, não o é, mas tu serás bem recompensado por isso, eu garanto.

— Se a mim for permitida a pergunta, onde ficam estas ruínas de Sarnor? — Qelarys perguntou já mais calmo e agora tomado por uma curiosidade aguda e uma sensação estranha para com Esuru.

— A única cidade sobrevivente dos Sarnori se chama Saati e ela fica no extremo norte do Mar Dothraki na delta do rio Sarne, encontraremos as ruínas subindo o Sarne. —Era uma viagem longa e cansativa, mas a cada momento o escriba sentia crescer nele uma nova curiosidade. Além disso era uma viagem perigosa, mas ele tinha certeza que Esuru era mais perigoso que qualquer khalasar no meio do caminho.

— Vocês não terão escolha a não ser ir até Saati, os Khals só permitem que mercadores na rota de Vaes Dothrak passem incólumes. Irão para a cidade com produtos que eu mandar e depois irão para Saati como a continuação da rota esperada, A partir de lá terão liberdade de ação — Seu mestre disse e pegou os livros que o escriba tinha trazido. — Muito bom material, o repassarei para você enquanto ainda estiver na mansão. — Xoan disse para Esuru. — Espero que consiga provar definitivamente a ligação dos Qaathi com os homens altos do passado.

— Eu acredito que conseguirei. Entretanto de preferência eu queria partir cedo, analisar todos esses documentos levara mais tempo do que me permitiria adiar a viagem. Qelarys, me faria o favor de copiar essas informações em folhas novas para eu levar comigo? — Ele perguntou com educação e pegou os papéis avulsos do meio dos livros. — Desses aqui não serão necessários copias. — Qelarys quase riu.

Esuru estendeu os livros para Qelarys que os pegou mais uma vez. Xoan bufou, mas engoliu o mau humor e respondeu.

— Tudo bem. Eu adianto as coisas para você. Preferia ter mais tempo para preparar a comitiva, mas posso fazer para depois de amanhã. Será um grupo pequeno, a camelo. Você, Qelarys, va cumprir o pedido de nosso convidado rápido.

— Será de grande ajuda. — Esuru não parecia deixar nada levantar sua voz ou tirar-lhe a calma.

O escriba saiu dos jardins com sentimentos conflitantes. Medo e excitação, incerteza e curiosidade. Sua intuição o dizia que ele devia ir, que algo de importante o esperava ao final do caminho, e seu lado racional o lembrava de que ele não tinha escolha a não ser ir como seu mestre ordenara. Em qualquer alternativa iria para o mar Dothraki ao lado do estranho historiador de Asshai.
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